Mídia Ninja: mais um brado da mídia contra-hegemônica

Por: Nicole Rodrigues Vieira
Regular a mídia urge, mas enquanto a sociedade brasileira não enfrenta esse debate, o jornalismo contra-hegemônico floresce como um brado irrefutável pela democratização da comunicação no país. Hoje amplamente dominado por um oligopólio formado pela Rede Globo e grupos transnacionais, como Time Warner, Disney e Fox, nosso sistema de comunicação distanciou-se do compromisso deontológico com a verdade, curvando-se às demandas mercadológicas de quem o controla.

Entretanto, explorando as possibilidades comunicacionais abertas pelas tecnologias de comunicação e informação, o jornalismo independente vem forjando estratégias e criando espaços onde a cidadania ativa ganha expressividade graças às possibilidades abertas pelas tecnologias de comunicação e informação. A autonomia dessa modalidade de jornalismo, em termos históricos, representa um contraponto ao jornalismo industrial ou tradicional, pois concebe novas formas de sociabilidade, que a despeito de se viabilizar economicamente, age balizado em inegociáveis compromissos éticos.

Nesse sentido, o jornalismo independente tornou-se uma problemática para os grupos de comunicação hegemônicos, pois tornam mais evidente seu descompromisso com o pluralismo étnico, responsável pela sub-representação dos negros na TV. Essa realidade foi analisada por Luciana Barreto, ativista do movimento negro e apresentadora do Jornal Repórter Brasil (RJ), ao comentar que: “a representatividade da cultura negra é como um pilar essencial no país, é uma peça chave para o crescimento do Brasil como um todo’’. Contudo, a referida apresentadora considera que há um futuro possível, com referências negras ocupando espaços importantes na televisão.

Sintonizado com essa perspectiva, o coletivo Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação), enquadrado dentro da categoria de mídia contra-hegemônica, é uma iniciativa de comunicação compromissada em refletir o pluralismo étnico, cultural e político que consubstancia o tecido social nacional.  Desde 2011, o referido coletivo vem fazendo enorme diferença na comunicação independente do país, dando voz e visibilidade aos seguimentos tradicionalmente invisibilizados e emudecidos pela mídia corporativa.

Nascido de uma mídia digital chamada ’Circuito Fora do Eixo’’, caracterizada enquanto rede de produção cultural que atua em coletivos e movimentos sociais por todo o Brasil, em 02 de janeiro de 2019, a Mídia Ninja abriu novas portas com uma sede na Bahia, especificamente na cidade de Salvador, objetivando conectar-se com as novas lutas e narrativas da sociedade baiana. Essa associação que a Mídia Ninja tem com as lutas sociopolíticas, contempla o próprio pluralismo e as lógicas inovadoras de produção e publicização das informações.

A Mídia Ninja consegue estabelecer uma relação peculiar com o seu público, alcançando índices de audiência impressionantes em suas redes, já atingido 1 milhão de seguidores. É visível como suas produções, a exemplo dos vídeos exclusivos postados semanalmente em seu canal do Youtube, têm potencializado a ampliação de outras redes ao enaltecer as transmissões instantâneas e a captação de áudio e vídeo em movimento.

Como meio alternativo à mídia convencional e com uma perspectiva de dentro para dentro, as mídias contra-hegemônicas têm refletido, apoiado e difundido ações sociais, culturais, políticas e econômicas de iniciativa popular que visam à garantia dos direitos fundamentais.  Com efeito, assim como os ninjas, eu também acredito no movimento e na transformação social, a partir de uma experiência radical de mídia livre e permeável a novas narrativas. Desta feita, concluo, que é a força social dos coletivos midiáticos que manterá de pé a necessidade de democratizar os meios de comunicação.

Nicole Rodrigues Vieira é estudante do curso de Jornalismo da Unime/Itabuna.

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