OPINIÃO: Rotinas das comunidades impostas pelo crime em Itabuna

-Alô, boa noite, pode mandar uma pizza?

-Qual o endereço?

-Moro aqui na comunidade X, número Y, próximo ao bairro W, tudo bem?

-Desculpa, senhora, mas nesse local não entregamos, obrigado.

Infelizmente essa é uma realidade de Itabuna, Sul da Bahia. O direito de ir e vir está comprometido em função da onda de violência. O tráfico domina os bairros, pessoas de bem, que não têm opção de sair, vivem como podem, com medo e cumprindo regras impostas pelos criminosos.

Relatos apontam que invasões de facções são informadas a todo tempo, diante disso, a favela fica tensa, os “recrutas” do tráfico se armam e desfilam nervosos para todos os lados. Um farol de carro ou barulho do motor já são motivos para bandidos correrem ou apontar suas pistolas para quem está chegando e, nem sempre, quase nunca, são rivais, na verdade são moradores ou um amigo fazendo visita ao parente ou conhecido. Conseguem imaginar a cena? Visitar um amigo e ter que passar por homens e mulheres armados, essa aberração acontece em Itabuna.

A estatística é comprovada pelos números, são 14 homicídios em 2020, em apenas 19 dias de janeiro. Mortes de envolvidos com o tráfico de drogas e um registro de bala perdida que matou a auxiliar administrativa “Dona Vanda”.

Causa

Há quem diga que os motivos são os famosos alvarás de soltura após audiência de custódia. Um jargão ficou famoso no país inteiro, em Itabuna, não seria diferente: “Polícia prende e a Justiça solta”. Para o juiz Murilo Staut Barreto, não é bem assim, a soltura é baseada no que rege a Lei, nada além disso. Por outro lado, os policiais falam que “enxugam gelo”, realizam diligências, prendem e apreendem, logo depois realizam tudo novamente para prender o mesmo acusado.

Outra possível causa são as determinações diretas do presídio, investigações já apontaram que ordens são feitas de líderes do tráfico presos, por conta disso, pessoas morrem.

Porém, o fato mais relevante, sem dúvidas, é o chamado confronto de territórios. Facções que estão sempre prontas para invadir uma comunidade. Relatos revelam que em um mesmo bairro existem duas “frentes”.

“Frente é aquele que responde pela ‘boca’, ele ou ela com autoridade de resolver qualquer situação da organização, por isso, são os que andam com as armas mais potentes e estão sempre com proteção de criminosos mais novos”, revela um especialista.

Segundo apuramos, quando existe um “frente” é porque o líder está preso ou não pode aparecer, então um elemento de confiança dele é nomeado, daí em diante, todos passam a receber ordens do indivíduo.

Diante dos fatos, uma pergunta é pertinente: “Qual a solução para Itabuna”? Mais prisões? Em 2019 foram cerca de 900. Políticas públicas? A cidade, em 2019, só fechou escolas. Esporte? Itabuna está longe de um centro esportivo decente, escolinhas, clubes e áreas de lazer sem a devida atenção, fato.

Itabuna respira o medo, realidade longe de terminar.

por Oziel Aragão – especialista em jornalismo policial.

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