por Celina Santos – O centenário do PCdoB (Partido Comunista do Brasil) ilustra a história de um grupo visivelmente apaixonado pelo xadrez da política. Para os “cururus”, “camaradas” ou qualquer outro sinônimo que o valha, participar das lutas já é um verdadeiro xeque-mate. Em busca de captar o sentimento neste tempo de aniversário, o Diário Bahia ouviu ex-vice prefeito e ex-vereador de Itabuna, Wenceslau Augusto dos Santos Júnior (foto) – pré-candidato a deputado federal. Acompanhe a conversa, um misto de observação da trajetória da sigla, críticas contumazes ao governo federal e planos frente à eleição de 2022.
O PCdoB chega a 100 anos com uma postura, digamos, bastante combativa. Qual o principal alvo a enfrentar hoje?
Bom, não tenha dúvidas que o principal alvo a ser enfrentado não só pelo PCdoB, mas por todas as forças democráticas, consequentes, que querem o bem do Brasil, que querem uma nação livre, democrática, soberana, que compreenda e respeite a diversidade do povo brasileiro, a sua diversidade religiosa, a diversidade de orientação sexual, a sua formação étnico-racial múltipla, e possa conviver de forma respeitosa e democrática. Tudo isso só é possível deslocando do poder o presidente Bolsonaro, que tem tido uma postura fascista, retrógrada, que promove a violência, o racismo, a misoginia, a homofobia, tudo que há de mais sórdido e de mais atrasado na sociedade. É uma posição que não tem outra palavra pra poder denominar senão uma postura nazista. Então, esse é o principal desafio dos comunistas no seu centenário.
Como definir a principal contribuição da legenda à política brasileira?
A contribuição dos comunistas é na história brasileira desde a sua fundação, não é? Em 1.922, um momento importante em que o mundo vivia, experimentava revoluções, como a revolução russa de 1.917, a organização dos trabalhadores, o partido nasce também no momento de ebulição cultural com a Semana de Arte Moderna, com a perspectiva da criação de uma nação, da valorização de uma cultura propriamente brasileira. Nós entendemos que a história da resistência do povo brasileiro à opressão, à exclusão social e a todo tipo de discriminação se confunde com a história do Partido Comunista do Brasil, o PCdoB. Ele com certeza participou ativamente dos momentos mais difíceis da nossa nação, o Estado Novo, a ditadura na década de 30, que vitimou várias lideranças políticas no nosso país, inclusive do nosso partido. Na sequência, nas décadas de 60 e 70, enfrentou bravamente a ditadura militar, chegando a pegar em armas através da guerrilha do Araguaia, quando os espaços democráticos foram diluídos e não havia mais outra alternativa de resistência senão a luta armada. Mas é a luta pela democracia.
Pode pontuar alguns nomes e/ou causas marcantes na sigla?
É o partido de Jorge Amado, que aprovou na Constituição brasileira a liberdade de culto religioso de qualquer que seja a sua matriz. É o partido que as pessoas tentam identificar como o partido dos ateus, mas foi esse partido que primeiro fez constar na constituição esse direito à liberdade religiosa. É o partido que defende o SUS, que defende a educação pública, a universidade pública, os direitos dos trabalhadores, o direito à aposentadoria, os direitos elementares do povo, é o partido que ajudou o presidente Lula a tirar o país do mapa da fome. Portanto, o nosso partido tem uma trajetória de luta e resistência, mas também tem demonstrado uma capacidade de gestão, de administrar quando à frente do Ministério do Esporte, que com certeza elevou o esporte brasileiro a uma condição inimaginável, que hoje infelizmente está destruída com esse desgoverno.
Tenho que mencionar a importância histórica não só de Jorge Amado, mas de Carlos Marighella, que foi do partido; Haroldo Lima, Loreta Valadares, Osvaldão, Dina e outros que já se foram, como João Amazonas, que ajudaram a construir a história desse país com muita luta, muito suor e muito sangue.
Vemos a formação da federação PCdoB, PT e PV. Estão claras as bases caso cheguem ao poder em âmbito federal?
Os ataques desde o golpe que derrubou Dilma [Rousseff] do poder, que deslocou a presidente eleita legitimamente sem nenhum tipo de razão ou crime de responsabilidade, também trouxe um entulho ditatorial antidemocrático ao acabar com as possibilidades de coligações proporcionais, ao estabelecer cláusulas de desempenho com objetivo nítido de atingir os partidos ideológicos. Eu acho que a eleição majoritária o nome já diz majoritária; é aquela que disputa e só ganha um. Proporcional é uma eleição do parlamento, é justamente para cada extrato da sociedade, cada pensamento estar ali representado ao máximo na sua pluralidade. Infelizmente, isso aconteceu no Brasil e a alternativa apresentada, defendida, articulada pelos comunistas foi abrir a possibilidade de formação de federação. Seria uma espécie de coligação mais duradoura, que teriam que estar juntos esses partidos durante pelo menos quatro anos. Portanto, a federação vingando com PT, PCdoB e PV – a gente aguarda ainda uma posição do PSB – estarão juntos esses partidos não só na disputa de 2022, mas na disputa de 2024 pelo menos. Podendo essa federação ser renovada ou ser dissolvida após esses quatro anos. Nós entendemos que a federação caminha lado a lado com a ideia do partido de construir uma frente ampla para derrotar Bolsonaro e recolocar o país nos trilhos da democracia e da defesa legítima dos direitos do povo brasileiro, do seu desenvolvimento com inclusão social, o retorno às políticas sociais que acabaram tirando o Brasil do mapa da fome e da miséria. Então, esse é o nosso lema e não só os partidos da federação devem estar unidos em torno dessa frente pra ganhar a eleição com Lula, não só ganhar, mas pra governar. E essa aliança da frente ampla vai além das siglas partidárias; essa que é uma tarefa de toda a sociedade organizada, se mobilizar, se organizar no sentido de não permitir a continuidade desse desgoverno.
O seu nome é apontado como pré-candidato a deputado federal. Qual o principal argumento para ocupar uma vaga?
Nós entendemos que nossa região sul da Bahia ao extremo-sul, baixo-sul, essa região que tem uma identidade cultural forte da Mata Atlântica, através da cultura do cacau, através da literatura de Jorge Amado, Adonias Filho, através da cultura Grapiúna e toda essa identidade e o turismo, a necessidade de preservação da Mata Atlântica, a necessidade de aprofundar esse processo que iniciou de deixar de ser uma região produtora de cacau para passar a ser uma região do chocolate, ela precisa de uma representação política. As universidades públicas, a UESC, a UFSB precisam de alianças e de representações que defendam a consolidação, ampliação do seu orçamento e a defesa do papel que essas instituições jogam para a formação da nossa juventude e para o desenvolvimento da ciência, da pesquisa como forma de desenvolvimento humano mesmo. A minha trajetória é essa, da luta estudantil; a luta pela estadualização da FESPI que resultou na UESC; pela criação da Universidade Federal; pela instalação do parque tecnológico; pela instalação do IFBA em Ilhéus; em defesa dos trabalhadores, eu advoguei para vários sindicatos, para os movimentos sociais; a luta pelos direitos humanos. Acho que a minha experiência, né? Eu fui vereador durante mais de oito anos em Itabuna, fui vice-prefeito, secretário municipal, hoje atuo na estatal Bahiagás, tem sido uma experiência muito boa, sou professor da universidade e entendo que tenho, sim, capacidade para enfrentar os debates nacionais: reforma tributária, reforma urbana, reforma agrária, que foi inconclusa, toda essa reformulação legislativa… Até por conta da formação acadêmica jurídica, mas não só por isso, por conta da necessidade de uma representação regional capaz de mobilizar a nossa região, o sul, extremo-sul, baixo-sul por pautas importantes do desenvolvimento econômico com respeito ao meio ambiente, desenvolvimento do turismo, da agroecologia e de outras temáticas importantes. Portanto, eu me sinto preparado, [irei] aguardar a decisão partidária; porque isso não é um desejo pessoal, mas sim uma missão. E se confirmando a pré-candidatura, nós iremos, sim, arregaçar as mangas e com certeza representar com muita dignidade a nossa região
Fora as questões partidárias, como pretende que seja sua relação com o novo governador?
Tenho uma grande confiança que o nosso campo político consiga fazer o sucessor do governador Rui Costa. Até porque é incontestável, até os adversários reconhecem o trabalho desenvolvido por ele ao longo desses oito anos, que se completa agora no final de 2022. Nós avançamos muito na interiorização da saúde, as policlínicas, os hospitais regionais; estamos avançando agora na melhoria da infraestrutura das escolas de nível médio, que são de responsabilidade do estado, para que elas possam ser ambientes mais atrativos e com conforto para que os alunos possam ter uma condição de aprendizagem melhor e o professor uma condição de trabalho mais digna; é o governo que mais fez estradas, pontes e investiu em infraestrutura sem descuidar de cuidar das pessoas.
Então, não tem comparação. Acredito que esses oito anos de Wagner, os oito anos de Rui conseguiram construir uma nova Bahia, inclusive na capital. Porque os grandes investimentos feitos na área de mobilidade, encostas, construção de casas, na área da saúde. Em Salvador, o metrô, por exemplo, que só veio funcionar com a parte que foi transferida essa responsabilidade pro governo. Isso por si só, aliado ao fato de que, com certeza, o presidente Lula vai precisar de um governador na Bahia para capilarizar essas políticas públicas de reconstrução nacional no nosso Brasil. Eu acredito nessa vitória.
Mas tenho o meu pensamento: depois da eleição quem ganha tem a legitimidade. Estando em cargo público, a gente tem que ter uma relação republicana, uma relação respeitosa com aqueles que legitimamente chegaram ao poder. Exceto aqueles que usurparam o poder, que chegam no poder com uma pauta, com a agenda prometendo uma coisa e entregando outra completamente diferente. Mas com certeza será uma grande e boa relação o próximo governador da Bahia.