por Lorenna Bispo, economista
No compasso da economia brasileira, parece que dançamos ao ritmo da arrecadação. A cada passo adiante, o eco dos impostos ressoa, trazendo à tona uma dúvida persistente: o governo protege a indústria ou protege seu próprio caixa?
O aumento da alíquota do ICMS, justificado como um escudo para a indústria nacional, vem carregado de uma segunda intenção não tão sutil – reforçar a arrecadação, mesmo que às custas do setor produtivo.
Com o dólar em alta, os pecuaristas não hesitam: exportar é mais rentável.
O Brasil, que se orgulha de ser o celeiro do mundo, vê seus melhores cortes atravessarem oceanos enquanto aqui o preço da carne se ergue, quase intocável. Não é apenas a escolha do produtor, mas a consequência de uma dependência crônica: importamos peças, fertilizantes, componentes industriais – e cada frete internacional reflete nos nossos bolsos em forma de inflação.
A inflação, no entanto, não é um monólogo. Há também a voz do aumento da demanda, fruto de um desemprego em queda e de um salário mínimo que ensaia tímidos avanços. Mas, como um eco distante, o poder de compra ainda não encontra seu lugar na orquestra. O prato de quem ganha mais continua a pesar pouco diante das prateleiras dos supermercados.
E enquanto tentamos decifrar esse cenário, surge uma nova peça no tabuleiro: o Pix. Criado como um filho da modernidade, ágil e eficiente, agora se vê observado de perto pelo governo. As transações serão monitoradas, mas o discurso da fiscalização esconde um velho refrão: arrecadar mais, sem necessariamente criar novos impostos. O Pix, que encurtou distâncias e facilitou o cotidiano, se torna também uma ponte para que o fisco chegue a cada transação não declarada.
Então, voltamos à pergunta essencial: o governo das receitas é também o governo da produtividade? O aumento da Selic, já em pauta para 2025, sinaliza que talvez ainda não estejamos em um momento de crescimento consistente. O motor da economia oscila entre a necessidade de aquecer o mercado e a pressão de controlar a inflação.
Nessa dança entre arrecadação e incentivo, o Brasil segue tentando encontrar o compasso certo. Talvez, quando as indústrias forem realmente fortalecidas, quando o investimento em inovação falar mais alto do que as taxas, possamos finalmente sair desse labirinto tributário e caminhar em direção a um crescimento que não dependa apenas da receita, mas da produção, do trabalho e do verdadeiro potencial do país.