O Brasil vive uma crise econômica profunda. O avanço da pandemia do novo coronavírus trouxe consigo uma instabilidade em escala global, com as quedas dos mercados financeiros e um brutal freio no crescimento. As medidas de contenção no país, especialmente se for da envergadura das aplicadas nos últimos dias no mundo, implicam em um curto-circuito na economia durante um tempo que não se sabe quanto. É o lógico preço a pagar: a saúde é a prioridade.
Isto tudo se agrava com a realidade brasileira, navegando em crise anterior ao surgimento do COVID-19. Senão, vejamos. O PIB do país em 2019 foi de 1,1%. A taxa de trabalhadores sem carteira ficou em 41,1%. Mais da metade, em 11 estados, estão no mercado da informalidade.
O desemprego segue em alta, atinge 13 milhões de pessoas. A precarização trabalhista desde Temer a Bolsonaro, intensifica ainda mais a retração do consumo das famílias no Brasil. A extrema pobreza aumentou 47% entre 2014 e 2018, terminamos 2018 com 13,5 milhões de brasileiros nestas condições.
Reza a cartilha, a economia só se movimenta se você tiver investimentos. A crise do coronavírus pega o Brasil exatamente nesta fase de ausência de políticas públicas há três anos. E o mercado externo, que poderia ser um alívio, uma saída, vive agora uma de suas piores instabilidades da história.
Os principais mercados para onde o Brasil exporta estão praticamente fechados, como a Argentina, principal destino de manufaturados. A China, nosso maior mercado de exportação, está em trauma econômico. Na Itália e Espanha as pessoas não saem mais às ruas.
As bolsas de valores acumulam quedas superiores a 20%. Dados divulgados pela Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) apontam uma possível perda de US$ 2 trilhões para a economia global este ano.
O combate à pandemia depende basicamente de ações urgentes e corretas, do ponto de vista médico e governamental. Entre estas medidas o isolamento social, a não aglomeração para evitar o contágio acelerado e o consequente colapso do sistema hospitalar no Brasil, como aconteceu na Itália.
Pois bem, diante de toda esta tragédia, o que nós vemos no Brasil, num momento em que é necessário, sobretudo, a orientação, a estabilidade política, a decisão de governo? Vemos um presidente à moda biruta de aeroporto, negando evidências médicas e estimulando aglomerações, quando a OMS já recomendou sua proibição.
Assistimos estupefatos o presidente estimulando, e o movimento da extrema- direita brasileira convocando, uma manifestação contra as instituições democráticas, o Congresso Nacional e o STF.
Esse mesmo presidente, que é suspeito de estar contaminado, cuja comitiva na viagem aos EUA já constatou 20 afetados, os maiores importadores do coronavírus, foi ao encontro da multidão, contrariando as determinações e protocolos da OMS e do próprio Ministério da Saúde, abraçou, e tirou selfies com sua claque à porta do Palácio.
Além de minimizar a pandemia mundial chamando de “gripezinha”, ainda atrapalha as ações dos governadores dos estados que tentam, com poucos recursos, adotar medidas de contenção à propagação do COVID-19.
Diante dos impactos e da paralisia na economia mundial, os governos tem tomado medidas de grande impacto para proteger as pessoas e as empresas. No Brasil, Guedes e Bolsonaro apresentaram um tímido pacote de medidas que não leva em consideração a estagnação que já estávamos metidos, nem o tamanho da nossa crise social.
Com insuficiente apoio às empresas, aos trabalhadores informais, às pessoas na situação de miséria, o pacotinho de Bolsonaro-Guedes mira o seu ataque nos trabalhadores formais. Bolsonaro emitiu pela manhã a MP 927 a MP da Morte, que autorizava suspensão de salário por até quatro meses, e de tarde recuou, diante da rápida e norme repercussão contrária captada nas redes e na sociedade.
O mundo, até o seu guru Trump, adota medidas de impacto com injeção de recursos para manter empregos, garantir renda aos mais carentes e socorrer as empresas. Grandes empresários brasileiros preveem, com esta paralisia na economia, um impacto de 40 milhões de desempregados. Pedem inclusive um plano da envergadura do Plano Marshall. Bolsonaro-Guedes fazem ouvido de mercador e apresentam aspirina para combater doença fatal.
O que é que Bolsonaro pretende ao dizer que não há pandemia e que é exagero da mídia? Por que tentar desestabilizar as ações dos governadores de contenção do coronavírus? Por que editar uma MP que corta salário em plena crise social? Só tem uma resposta: ele está apostando no caos econômico, social e político no Brasil.
Ele sabe as consequências das suas ações para o país. Mas, cínica e premeditadamente, segue criando mecanismos para desestabilizar os poderes constitucionais e jogar a responsabilidade da profunda crise interna no colo da política.
Por que esse jogo? Para tentar, diante de um caos político social e econômico, mudar o regime; não com o apoio apenas dos que estavam nas ruas contra o Congresso e o STF, mas, principalmente, das organizações paramilitares somadas à parte dos militares sob sua tutela. Eles estão criando condições políticas e sociais de desestabilização e caos para tentar um golpe de estado.
Portanto, não se iludam. Bolsonaro aposta no caos.
Por isso é necessário que as forças políticas democráticas e populares se reúnam neste momento, apoiando os governadores e as medidas de combate à propagação do COVID-19, com as lideranças do Congresso Nacional, empresários e trabalhadores, na formatação de um plano econômico de urgência e na derrota da MP 927.
Estão dadas as condições de se formar uma ampla frente em defesa da democracia, da saúde e da economia do país.
Davidson Magalhães é presidente PCdoB – Bahia e secretário do Trabalho, Emprego e Renda da Bahia