OPINIÃO: A crise e as oportunidades

A monilíase chegou, e junto com ela uma série de medos e angústias que remontam a um passado recente. Porém, melhor do que naquela época temos condições efetivas de uma reação, ou ação (a depender do prisma) para evitar danos maiores, ou minimizá-los. A questão com essa doença (a monilíase é uma doença causada pelo fungo Moniliophthora roreri) não é o “SE” mas era o “QUANDO” ela chegaria.

Um dos pontos atenuantes (sim temos pontos atenuantes), ou que podem minimizar os impactos dos sustos, é saber que temos conjunto de instituições (e aqui destaco a CEPLAC, a UESC e a ADAB) e uma série de técnicos preparados (e aqui destaco duas engenheira agrônomas: a Dra Karina Gramacho e Catarina Cotrim) com projetos e pesquisas prontas para serem executadas e tantas outras em execuções.

Com muitas dificuldades, mas também, com muitos avanços que a rede produtiva do cacau teve nos últimos 14 anos, a cacauicultura ainda faz girar na Região Cacaueira um montante de R$ 3,4 bilhões por ano (apenas na compra e venda de amêndoas), gera cerca de R$ 296 milhões em impostos diretos ao Estado, e, principalmente, conserva e preserva maciços florestais importantes do que sobrou de Mata Atlântica na Bahia.

Uma ameaça, que agora é real, e foi confirmada pelo Ministério da Agricultura no município de Cruzeiro do Sul no estado do Acre. Essa realidade requer ações de curto, médio e longo prazo com a mesma agilidade, ou mais rápidas, do que a dispersão dos esporos desse fungo. Na minha vivência e experiência, ou seja, na missão profissional e de vida a qual me dedico na cabruca, relato aqui, como uma sugestão, uma série de medidas que precisam ser adotadas:

1. Formação de Grupo de Trabalho com autonomia e estrutura para o monitoramento, avaliações e ações para o combate à Monilíase;

2. Capacitações on line, ou presenciais (cumprindo todos os protocolos de segurança contra a COVID19) dos técnicos das chamadas de ATER, dos ACRs (do Programa Bahia Produtiva), dos técnicos dos movimentos sociais, dos Conselheiros Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável, dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, dos Sindicatos Rurais, das Prefeituras, dos Consórcios e dos consultores autônomos;

3. Fortalecimento das barreiras sanitárias e fitossanitárias do Estado, emitindo alertas aos outros estados (independente de serem ou não produtores de cacau);

4. Reunião com o Consórcio Nordeste e o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia para tratar do tema Monilíase e termos ações sincronizadas e trocarmos informações em tempo real;

5. Implantação de 02 (duas) estufas de crescimento de mudas em cada um dos territórios que produzem cacau: Extremo Sul, Costa do Descobrimento, Litoral Sul, Médio Sudoeste, Médio Rio das Contas, Vale do Jequiriçá e Baixo Sul. Sempre construídos em áreas de fácil acesso e de boa disponibilidade de água. Essas estufas devem ser “estufas de terminação” para as mudas produzidas na Biofábrica, e geridas em parceira da SDR, SEAGRI, SECTI, CEPLAC, Consórcios e o Instituto Biofábrica. Assim aceleraríamos a produção de mudas e a dispersão (sem concentração) na logística produtiva de materiais vegetativos;

6. Elaboração de um Termo de Cooperação Técnica entre o Estado da bahia e a CEPLAC, e a elaboração de um Termo de Cooperação entre o Instituto Biofábrica da Bahia (antigo Instituto Biofábrica de Cacau) e a CEPLAC.

O SÉTIMO ponto vou discorrer um pouco mais detalhadamente: a execução de um projeto apresentado ao Governo Estadual, em 2018, pelo Instituto Biofábrica, quando eu fui gestor, numa cooperação técnica e científica com o Centro de Pesquisas do Cacau – CEPEC/CEPLAC. Nessa proposta o foco principal é a estruturação de ações para o combate à Monilíase, com duas grandes vertentes: a formação continuada de técnicos, agricultores e profissionais e o lançamento de uma gama de novos clones (cultivares) de cacau (cerca de 618 novos clones!!! Isso mesmo: 618 NOVOS CLONES). O projeto apresentado, construído à muitas boas mãos, tem um investimento previsto de R$ 7,4 milhões em 24 meses (R$ 308 mil por mês em média).

Preparar a base produtiva com uma maior diversidade genética era, e ainda é, o principal caminho para enfrentar essa doença. Ampliar a base genética com novos clones, principalmente com plantas resistentes à M. Roreri precisa ser o eixo central das ações, aliado a um forte processo de extensão rural e ampliação nas pesquisas e inovações na base produtiva. E fiquemos atentos para que alguns não utilizem o momento e o oportunismo para “manejar” a cabruca e aumentar o desmatamento na Mata Atlântica baiana.

Destaco aqui, já finalizando, que um dos principais caminhos, menos burocrático, é fortalecer esse instrumento ímpar que a Bahia, o Brasil e o mundo tem que é o Instituto Biofábrica. Com ele, fugindo do burocracismo (e não da burocracia), fugindo do legalismo (e não da legalidade), a Biofábrica conseguirá dá respostas rápidas, sempre norteada e em parceria com a SDR, a SEAGRI, a SDE, e SECTI, a CEPLAC, a UESC, a Câmara Setorial do Cacau, a ADAB, a SFA, o IFBAIANO e a UFSB, para contratações de pessoas, contratações de serviços, estruturação de laboratórios, aquisição de reagentes, aquisição de equipamentos e materiais. A natureza da Biofábrica, uma OS – Organização Social, permite uma agilidade importante nesse momento de urgência e emergência que toda a vida da Região cacaueira requer.

Não tenhamos dúvidas que com as boas representações no secretariado que a Região tem: Davidson Magalhães na SETRE, Josias Gomes na SDR, Adélia Pinheiro na SECTI e João Carlos na SEAGRI, com a qualidade da nossa bancada baiana estadual e federal, com o nível do nosso Senador Jaques Wagner, Otto Alencar e Ângelo Coronel, e no comando um homem da sensibilidade e envergadura do Governador Rui Costa, teremos essas e outras ações realizadas muito antes do que imaginamos, e teremos uma cacauicultura muito mais fortalecida.

Lanns Almeida – é engenheiro agrônomo, ex-assessor técnico da CAR (2007-2012), ex-secretário municipal de agricultura e meio ambiente de Itabuna (2013 – 2016), ex-diretor do Instituto Biofábrica da Bahia (2016 – 2019), e Consultor Técnico em Cacau de qualidade no Brasil

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